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TEX SEM FRONTEIRAS
“Tudo pelo herói”
.Há alguns meses, o editor Dorival perguntou se eu iria ao Fest Comix e em caso afirmativo, poderia ficar em sua residência, hospedado com os convidados italianos. Quando eu resolvi que iria e reservei a passagem, avisei-lhe que aceitava o honroso convite.
Dias depois…
A minha viagem foi épica do começo ao fim. O meu dia de 5ª. feira, 18 de Outubro foi um dos mais corridos da minha vida, ou pelo menos dos últimos anos. Tive uma reunião de trabalho às 9 – que começou às 10 – e aproveitei para rabiscar um texto para um compromisso que eu teria no início da noite, e saí dela apressado às 12.Passei no laboratório fotográfico para pegar umas fotos e não estavam prontas devido um problema na máquina – que custou 500 mil reais. Então peguei o caminho de casa e antes de chegar resolvi passar na costureira para pegar uma camisa feita sob encomenda. Mas não era uma camisa qualquer. Era simplesmente a nova camisa amarela que uso quando me visto tentando imitar Tex Willer. Bem, a costureira havia saído para resolver um problema de saúde e fiquei de voltar depois.

No laboratório do shopping deu tudo certo e foi rápido. Passei no banco e fiz um saque – tive medo que Mister Proteus tivesse passado antes de mim. Daí retornei para casa, mas antes passei na costureira e cheguei na sua casa ao mesmo tempo que ela, pois encontrei-a no caminho e dei-lhe uma boleia. Dali fui para casa, onde havia muito o que fazer.
Coloquei os livros novos que iriam para São Paulo numa caixa para proteger melhor, arrumei os apetrechos do cosplay do Tex numa sacola de mão, dei uma melhorada no visual (barba, unhas, cabelo) e terminei o texto que havia começado de manhã – e fiz uma leitura rápida, marcando o tempo, que foi 4 minutos. A tarde passou rápida. Também arrumei a mala com ajuda da minha esposa, conferi os dados do voo, dei mais uma espiada na Internet, e saí com Kika para um passeio bem rápido nos arredores.

fui convidado e devido à minha vestimenta, escolhido para fazer um discurso em nome de todos os autores – explicado agora o texto que escrevi durante o dia, né? Cheguei lá no horário previsto e coloquei os livros na mesa a mim reservada. Estava com a roupa, mas sem armas, chapéu, esporas, lenço. Só coloquei pouco antes da minha hora.

Mas não podia perder a chance e fui para o microfone, cumprimentei a todos e expliquei que estava vestido igual à personagem principal do meu livro. Para marcar bastante aquele momento, usei de força na voz, para ficar tronante – acho até que exagerei – e falei pausadamente, com algumas baixas entoações de voz. Não sei se coloco o texto aqui… acho que vou colocar para ficar gravado e divulgado para o mundo todo. Então lá vai:

Estou vestido igual à personagem principal do meu livro – o Tex, herói de revista de faroeste lançado no Brasil desde 1971. Bem…!
Exmo. Sr. Vice-Governador do Estado da Paraíba, Rômulo Gouveia
Exmo. Sra. Secretária Adjunta da Cultura, Amasile Vieira
Exmo. Sr. Presidente da Fundação Casa de José Américo, Flávio Sátyro
Em nome de quem cumprimento as demais autoridades presentes…
Caros amigos autores e artistas que se fazem presentes…
Caros amigos da mídia que eternizarão estes momentos…
Senhoras e Senhores,
Participar dos festejos e homenagens da comemoração dos 30 anos da Fundação Casa de José Américo é motivo de grande regozijo e honraria para todos nós. Esta Casa é um templo do saber e guarda a história e importância desse grande paraibano, que certamente está entre nós… e que tão bem representou a nossa Paraíba, e não só, guarda também a história de nossa terra através dos registos de nossos governantes do passado.

Para nós, autores, escritores, lançar um livro é como conceber um filho, um filho que já nasce pronto para ganhar os ares, o mundo!
Desde tempos imemoriais que o homem sentiu a necessidade de se comunicar e transmitir suas experiências. O que seria de nós? O que seria da humanidade sem os livros?
Nessa hora abri os braços cobertos pela camisa de mangas longas, amarelas e balancei a cabeça.
José Américo foi além, ultrapassou muitas barreiras. Foi romancista, ensaísta, poeta, cronista, folclorista e sociólogo. Lançou 14 obras e a mais destacada foi A Bagaceira. Foi advogado, promotor, procurador, secretário, deputado federal, ministro, governador, fundador da UFPB e ainda pré-candidato a Presidente do Brasil.
Esta parte eu havia pego na Internet para dar mais corpo à minha fala.

Então, é este um grande momento para todos nós, que seguimos os exemplos de José Américo e de tantos outros escritores de nossa terra, que por certo é bastante profícua em formar homens curiosos, tenazes, insaciáveis, visionários, nos campos das ares, do saber, das letras… da política.
Cheguei aqui alçado pela condição de coleccionador de quadradinhos desde a minha infância e com o passar do tempo escrevi histórias, matérias e causos sobre a personagem e comecei a vestir-me igual nos eventos da área. A personagem é Tex, herói de quadradinhos de faroeste, nas bancas brasileiras desde 1971 até nossos dias.
Faço isso porque acredito na mensagem, postura e importância da personagem e utilizo-me dessa imagem para incentivar a leitura, principalmente mostrando que História em Quadradinhos é Cultura.
Repito: é incomensurável a alegria de fazer parte deste momento. Graças a Deus, fiz a escolha certa em lançar os meus dois livros aqui na Fundação. Hoje sou, somos honrados por isso.

Para finalizar, quero lembrar as palavras de Monteiro Lobato:
“Um país se faz com homens e livros”.
… e pedir ao nosso Vice-Governador que continue olhando para a cultura paraibana, ampliando o FIC – Fundo de Incentivo à Cultura – e facilitando a vida de quem produz por amor à terra, ao povo, à Pátria…
E pedir a palavra a José Américo e dizer:
“Vamos fazer a política dos pobres, pois a dos ricos já está feita”.
Nessa hora alguns olhos se mexeram… mas não liguei.
Considero que é muito difícil para um autor independente, como eu, lançar um livro. Nossas livrarias são recheadas de publicações estrangeiras. Precisamos mudar isso.
Todos nós estamos aqui porque, assim como Pedro Américo, acreditamos que era possível. Hoje é facto.
Continuemos a batalha.

Senti orgulho nessa hora, pois sei da luta de muitos que conseguem um lugar ao sol. Nem percebi que troquei o nome do homenageado e somente quando alguém me disse é que caí na real.
Parabéns à Casa, aos servidores, aos autores aqui presentes.
Viva a cultura paraibana.
Sucesso para todos! Boa noite! Obrigado!

No salão da Casa nos posicionamos e recebemos os visitantes. Alguns foram olhar o livro do Tex e consegui vender um do primeiro, para um novo amigo texiano. Um autor do meu lado, que escreveu um livro sobre Lampião se declarou fanzaço do Tex e que tinha tudo, menos os dois livros. Ficamos de conversar para ele conseguir. As vendas foram muito poucas para todo mundo. Era mais um momento de fiesta.

Voo 1081 João Pessoa – Viracopos – SP: 03:35 do dia 19 de Outubro de 2012 – conexão e troca de aeronave no Rio de Janeiro – Aeroporto Antonio Carlos Jobim.


Ele tomou o meu braço, segurou o pulso e percebeu que eu estava com uma crise de hipotensão, pressão baixa, e começou a falar comigo, pedindo calma, que respirasse profundo, que abrisse e fechasse as mãos, que respirasse, que ficasse tranquilo e passou a perguntar onde eu morava, o que eu fazia, onde estava indo, e falava dele também… e pouco depois eu estava bem melhor, o pulso voltou a dar sinal de vida. Alguém da tripulação disse que o avião pousaria no Rio de Janeiro em 20 minutos. E fui realmente melhorando e anotei o nome do médico e trocamos algumas palavras e prometemos um reencontro no futuro (já aconteceu, ele passou na minha residência).

Sampa e seu Fest Comix…
Uma hora e pouco depois eu estava em Sampa, diante da esteira, pegando minha bagagem, que estava toda em ordem. Aí tomei um autocarro (ônibus no Brasil) para a Barra Funda, local mais próximo da casa do Dorival Mythos, mas lá chegando, não consegui falar com ele pois estava tudo congestionado e nada de completar a ligação. Pedi para ligarem para mim e nada. Aí eu não sabia se viriam buscar-me e tive medo de pegar um táxi e desencontrar. Mas lá pelas 14:00 ligaram-me da Mythos e pediram para eu ir de táxi. Aí sem medo de desencontro, fui directo para a Casa dos Sonhos, onde rolava um churrasco de boas-vindas para os convidados italianos. Como eu conheço a região, não tive receio e fomos directo. No trajecto o taxista foi me contando as mais actuais sobre o Palmeiras, que lutava desesperadamente para não cair para a segunda divisão.

Fabio, Moreno, Diso, Sergio Pignatone com a esposa Nadia e o secretário Nicolò. Por mil índios enfurecidos! O Fabio levantou e deu-me um abraço junto com aquele seu sorriso franco e disse “Ciao GG! Grande prazer encontrar você!” (falou em bom português com aquele sotaque); Por mil tambores, também Moreno levantou e disse: “Gia ci conosco de lettera e e-mail, però lieto de conoscervi di verità”. Cumprimentei os demais na mesa, em pleno final de almoço e deixei-lhes à vontade.

Estiveram por lá o Nilson Farinha (do Zagor e Júlia Kendall), o Levi (ex-Mythos e actual Panini) e Giovanni Voltolini, numa conversa super animada sobre quadradinhos. Rolou de tudo nessa conversa, desde as pretensões da Panini, o que pode dar certo, o que pode dar errado, as opiniões de uns e de outros, a favor ou contra, as defesas, etc. Eu almocei, fiquei ali perto do balcão, curtindo, tomando uma cerveja, pois já me sentia bem, conversando, relembrando e falando de momentos antigos, das nossas conversas e de nossas dúvidas… sempre brincando, rindo. Houve o famoso banho de piscina para alguns rapazes já embalados pela cerveja.

Saímos de lá passava das 20 horas e fomos para a casa do Dorival, onde chegamos e fomos nos recolher, pois no dia seguinte havia o Fest Comix para enfrentar. O primeiro a sumir foi o Moreno Burattini, que se despediu e foi para o quarto. O Fabio ainda saiu para jantar com uns amigos. Eu fiquei por ali, arrumei minhas bagagens e tomei banho e somente perto da meia-noite é que deitei.

O veículo do Dorival é um tipo Pajero e eu viajei sempre no camburão, atrás, para não perturbar os ídolos. O Júlio quis trocar comigo em algumas ocasiões, mas eu não aceitei, pois ele era o tradutor de muitas conversas, ou da maioria. Eu seguia ouvindo, atento ao linguarejar, às expressões, às brincadeiras, às curiosidades deles em relação a São Paulo, às histórias envolvendo os quadradinhos.

Como todos sabem, o Fabio Civitelli e o Moreno Burattini vieram ao Brasil lançar o livro O Meu Tex – A Balada do Oeste, com desenhos daquele e textos deste. A Mythos também lançava o Zagor Gigante. Havia ainda o livro romance escrito pelo Burattini meses atrás lançado aqui no Brasil, Os Muros de Jericho. Estes e outros mais assinados por esses autores estavam sendo adquiridos e autografados. E veio na comitiva o grande Roberto Diso, desenhador de Mister No e de Tex anuais, como sabemos.
Assim que entrei, encontrei logo o Jorge Comix e entreguei-lhe os livros e ele foi providenciar para colocar à venda. Mas quase uma hora depois, um texiano veio a mim e disse que não havia encontrado o livro. Estava chegando um Senhor de uns 65 anos, texiano, com o livro em mãos para autógrafo e eu perguntei-lhe onde encontrara o livro e ele disse que numa gôndola que não era a dos produtos da Mythos. Então fui até o hipermercado de quadradinhos e dei uma volta por lá até encontrar alguns livros Tex no Brasil junto com as colecções de Ken Parker. Eu mesmo retirei dali e levei para o local apropriado, junto com o livro do Fabio Civitelli/Moreno Burattini e revistas da Mythos, e entrei em contacto com o responsável da área e resolvi o problema.


Zé Ricardo com o seu tablet e suas mil e uma histórias e experiências e Wilson Sacramento com a camiseta do Tex no Brasil, estes dois cabras arretados, não arredaram o pé durante todo o tempo e além de formar o exército, também auxiliaram bastante, seja na política da boa vizinhança, fazendo fotos, dando corpo e alma ao evento. Nós éramos tantos que o pessoal parava para ver o que estava acontecendo ali. A fila permanente chamava a atenção. Os desenhadores incansáveis…
Quando foi dado o sinal para o almoço às 14 horas e soube do Júlio que só retornaríamos às 16, resolvi ficar no stand para receber quem pudesse aparecer nesse horário, pelo menos para dar uma satisfação. Então o pessoal foi almoçar uma feijoada, inclusive alguns texianos e zagorianos. Eu aproveitei para finalmente colocar a roupa do Tex, pois até ali estava com a camiseta. Nisso, foi dado início ao concurso de cosplay e queria participar e até estava inscrito, mas acabei deixando para o domingo. O nosso pessoal acabou demorando mais do que o previsto devido ao restaurante lotado e ao trânsito complicado – e mais uma chuva que caiu na região. Com isso, alguns texianos que haviam comprado o livro do Civitelli, não conseguiram autógrafo – ficou para uma próxima ocasião.

O meu livro estava saindo aos poucos. Eu aproveitava para conversar com todo mundo, fotografar as mesas e fila e de vez em quando era chamado para fotografar com crianças que iam passando, algumas trajadas de Super Herói, e mesmo alguns marmanjos e até belas moçoilas. Nos autógrafos que dei, aproveitei para escrever bastante, justificando que se o desenhador levava um tempo para fazer o seu autógrafo devido ao desenho, eu também levaria o meu tempo fazendo o que gosto: escrever.

Eu perguntei algumas vezes o que não havia feito durante todo o tempo em que estivemos juntos: 1 – Para quando o Civitelli no Zagor e o Burattini no Tex? Fabio respondeu que não se sabia, pois para trabalhar com o Tex não basta querer. É preciso ser convidado. Então podemos imaginar que é mais fácil o Fabio ir para o Zagor, até porque o Moreno é o curador e principal roteirista do Espírito da Machadinha e tem muito trabalho nas costas. Outra pergunta que fiz: Por que se fez tantas homenagens a Sergio Bonelli, por que foi mais sentida a sua morte do que a do seu pai, do criador de Tex, Gian Luigi Bonelli? A resposta do Fabio e corroborada pelo Burattini foi que o Bonelli pai já havia parado de trabalhar há um bom tempo e estava afastado, e já vinha doente quando faleceu, e com Sergio foi totalmente inesperado. Ainda hoje se imagina que a qualquer momento o Sergio possa voltar a trabalhar depois de uma viagem a uma parte remota do Planeta. Uma coisa interessante dita ali pelo Moreno foi que o Sergio ia de sala em sala, todas as sextas-feiras dar tchau e desejar um bom fim de semana e até segunda-feira a todos os colaboradores e curiosamente, naquela sexta ele não fez isso, como se já soubesse que não retornaria.

O Diso também subiu para o palco e falou de seu trabalho com Mister No e principalmente com Tex, dizendo que está desenhando uma aventura bastante longa, que poderá sair no título Anual ou noutro, e com o trio completo houve muita conversa boa, falando do fumetto, naquele tal de bate-volta. Adriano Rainho e José Ricardo fizeram perguntas e obtiveram as suas respostas. Terminaram os ídolos cantando algumas músicas para descontrair. E ao final, os pards Wilson Sacramento e Filipe Chamy pediram uma entrevista com Dorival Mythos para ficarem por dentro das próximas jogadas editoriais envolvendo as publicações actuais e possíveis novidades – que já foram divulgadas em blogues ou perfis.
Lá pelas 20 horas o Editor de Bermudas terminou a sua entrevista e pegamos as nossas bolsas e abandonamos o local, com muita gente ainda circulando, comprando, chegando. Mas os nossos heróis estavam no ar desde manhã, desenhando e autografando. Era hora de recarregar as baterias.

Fomos em dois carros para a romântica Vila Madalena, em uma pizzaria muito boa de nome Babbo Giovanni, famosíssima e gostoséssima, e ali uma mesa para 14 pessoas. Dessa vez havia menos fãs do que em 2010, quando estivemos no mesmo local. Somente eu e o Zé Ricardo estivemos ali entre os medalhões. Certamente outros pards não foram devido ao deslocamento, horário, distâncias, etc. Fiquei ao lado do Dorival, de frente ao Fabio, ao lado do Júlio, e junto ao Helcio e Franco de Rosa. O Zé Ricardo, não por acaso, ficou próximo do Moreno e do Diso, do outro lado, onde também estava o pessoal da Little Nemo, com o Sergio. As conversas correm soltas nessa hora, com alguns questionamentos e várias perguntas. Mas deixamos a banda desenhada de lado por um tempo e tratamos de curiosidades entre as duas culturas e até relatamos experiências pessoais. De vez em quando uma risada gostosa, uma piada, que momento bom de descontracção. No cardápio pizza e cerveja.

Chegando ao Fest Comix a mesma visão mágica de ver a fila dobrando o quarteirão (mas não é fila de um atrás do outro, mas de muita gente aglomerada, tomando a calçada), a área da bilheteira lotada e lá dentro o movimento já bem grande. Os nossos heróis prepararam-se para os trabalhos e eu fui directo para o ambulatório que havia no local. Lá a primeira providência foi medir a pressão, que estava um pouco alta, mas nada alarmante, só 13 x 10. Como eu havia tomado o meu medicamento, restava esperar melhoras. Para o estômago, pedi um sal de frutas, mas não tinha ali e pedi para alguém ir comprar. Depois deitei numa maca e tentei relaxar. Fiquei ali por mais de uma hora. Recebi as visitas do Júlio, Dorival e Maldonado. Tomei o segundo sal de frutas e resolvi encarar a turma mesmo com cara de doente.

Lá pelas 14 horas, foi dado o sinal de recolher e nos preparamos para partir, agora de forma definitiva. Mas primeiro fomos almoçar ali nas redondezas, atravessando a Av. Paulista e indo para o outro lado – o lado dos Jardins. Moreno fazia algumas fotos e chegamos ao local, que estava lotado. Esperamos 10 minutos por uma mesa desocupada. Eu ainda estava ruim, mas sabia que precisava alimentar-me e enfrentei uma porção de arroz, um pouco de salada e um pedaço de carne… e água gaseificada. Comi pouco, mas o suficiente para escapar. O estômago aceitou bem e na saída ainda voltamos na Paulista para o Moreno fazer uma foto bem ao centro da via, do canteiro central, levando esta bela recordação onde ele participa da paisagem junto ao Fabio num clique feito por mim.

Acordei na boca da noite e começou o movimento na sala. O Dorival chegou com uma pilha de livros para o Fabio Civitelli autografar. Era uma lista bem comprida. Para o Zeca, para Mário, para o Magalhães, para o Gervásio, etc. etc… chegaram os familiares do Dorival e o Fabio foi intimado pela neta do editor a fazer um desenho dela como Lilyth e ficou muito bonito. E eu liguei o computador e o Moreno veio para meu lado para vermos as fotos e trocarmos ideias. Mas quando parecia que só pararíamos na hora de dormir, chegou o Helcio com um convite para irmos jantar no Itaim Bibi, bairro da Zona Sul, boémio, chiquérrimo, e sem qualquer preparação lá fomos nós para mais uma viagem, dessa vez pela Marginal Pinheiros (via que segue pela margem do Rio Pinheiros, sentido norte-sul, quase na extremidade oriental da cidade, – são 6 pistas em cada sentido).

Agora imagine jantar com seus amigos num ambiente com luz pouco acima de penumbra, local aconchegante, nomes como Dorival Mythos, Helcio de Carvalho, Júlio Schneider, Roberto Diso, Moreno Burattini e Fabio Civitelli, tomando um drink clássico (no meu caso foi água tónica mesmo) como Belini do Harrys Bar de Veneza e provando uma caporata ou um Crudités com azeite de manjericão… é, você está no Sallvatore. Eu lembro-lhes que estava me recuperando e não pude ingerir vinho e escolhi uma macarronada à puttanesca para levantar o moral, né? Uma delícia, mas era tanta que fui obrigado a deixar um pouco, ou passaria mal. O Moreno é que se divertiu muito com o seu prato. Não posso esquecer que brindamos a Tex, a Zagor, à amizade…

Civitelli fez questão de desenhar um Tex para mim na capa interna do Tex Gigante, e senti que fazia com grande prazer, talvez por eu não ter pedido. Ele percebeu que eu fiquei sem graça, mas também feliz. No livro O Meu Tex, ele autografou e desenhou um revólver e o Moreno assinou e desenhou uma machadinha, o Júlio assinou e disse que não tinha o que traduzir e o Dorival assinou e anotou a data. Perfeito. Agora me dou conta que faltou o Diso autenticar a obra, mas é porque ele havia subido para o apartamento do Helcio.
E durante estes momentos de assinatura, confirmamos que no dia seguinte, eu e o Fabio iríamos ao centro de São Paulo dar um giro pelas lojas de fotografia, que são nossas paixões 2, e o Dorival ficou de nos levar. Já o Moreno, o Júlio e o Diso teriam outros afazeres. Eu iria em compra de uma lente Canon e de uma bateria para o meu studio fotográfico… o Fabio queria encontrar uma câmara que pretendia comprar.

Ainda tivemos um novo momento fotográfico quando o Dorival nos chamou para opinar sobre a veracidade de algumas imagens tidas como pinturas e que me pareceram fotos mesmo. É como se fosse feita uma foto de uma paisagem e houvessem pintado por cima, tamanha a perfeição. São as fotos impressionistas.

Na manhã seguinte, o Dorival saiu cedo para a editora para efectuar pagamentos e nós fomos para o café da manhã. Ao terminar, vi que já batia 9 horas e na volta para casa, enquanto o Fabio apertava o botão para que o semáforo fechasse para os carros e abrisse para nós, e combinei com ele de irmos de táxi-metropolitano. Ele concordou de pronto. Fizemos as devidas comunicações e saímos, com o Fabio levando a sua Leica a tiracolo. Confesso que fiquei um pouco apreensivo, pois não gosto de andar na rua com nada que atraia ladrões.
Fotograficamente…
Táxi, depois metropolitano, sempre trocando informações de nossas realidades, ele se esforçando sempre para falar em português, tomamos o metropolitano na Barra Funda e chegamos ao ponto central de Sampa: Viaduto do Chá – que passamos por baixo, pelo Vale do Anhangabaú . Ele já estivera ali antes. Seguimos para a rua Conselheiro Crispiniano, nos anos 90 recheada de lojas de fotografia, hoje uma lembrança do que foi (mas ainda tem umas 6 lojas). Iniciamos a caminhada indo de loja em loja, pesquisando os preços da lente e nada de ter a bateria que eu queria e ele não encontrando a câmara que procurava.

Estávamos a 40 metros da Praça da República e eu quis mostrar-lhe aquele espaço importante e ao mesmo tempo tão contrastante, pois ali moram mendigos que tomam banho no lago e nas fontes, drogando-se de noite e dormindo ao relento de dia. E tive a oportunidade de mostrar-lhe o Edifício Itália, já tão famoso. Ele ainda perguntou pelo edifício que faz uma curva, o Copam, mas aquele é melhor visto de cima do que de baixo. E já havia o avançado da hora e não tivemos como dar uma volta na região. Trilhamos a rua Barão de Itapetininga e expliquei-lhe aquelas pessoas paradas ao sol, com banners pendurados no pescoço, com listas e listas de empregos e serviços ofertados, principalmente para aqueles que buscam o primeiro emprego, e na maioria os que não tem computador e acabam de chegar na megalópole.

Vencemos a rua Direita, que é torta, e na Praça da Sé nós passamos bem ao centro, com interesse especial na Catedral, que fora desenhada pelo próprio Civitelli com o Tex em primeiro plano para presentear os visitantes no Fest Comix. Ele olhou de um lado, do outro, talvez procurando mais algum detalhe. Seguimos pela lateral e pouco depois estávamos atrás. Nosso passeio continuou firme, agora o sol era escaldante como o do Deserto Pintado e procuramos as sombras dos edifícios. Nossa meta agora era o bairro japonês, onde eu faria algumas compras e o Fabio demonstrou um certo interesse em conhecer.
Japantown…

Da Barra Funda fomos de táxi para casa. No caminho fomos falando de Tex, de fotografia e de Sampa, e de Arezzo, a cidade do Fabio, que ele atravessa em 10 minutos de caminhada, e faz isso regularmente, até mesmo de bicicleta, quando resolve pedalar durante horas. Ai descobri que o motorista do táxi é descendente de italianos e a conversa tomou outro rumo ali pelas alamedas da Lapa. Por fim, chegamos diante da padaria Letícia, onde os nossos bravos camaradas já estavam acabando de almoçar e nos aguardavam. Chegamos esfomeados e atacamos o que restava no self-service – passava das 14:30h, já no horário brasileiro de Verão. Vale dizer que o Fabio não me deixou pagar o táxi nem na ida, nem na volta, mesmo que eu tivesse insistido. Ele tinha algum dinheiro em reais, fruto das vendas de seus desenhos, conforme falei acima, e queria se desfazer de uma parte. Não discuti, pois não se discute com o ídolo que saca mais rápido.

Então eles colocaram roupas de atleta e desceram para a piscina. O Dorival chegou e disse que me levaria no metropolitano – às 17 horas tinha que pegar a estrada de volta para a Paraíba. Comecei a arrumar a mala, separar as coisas de despachar e a bagagem de mão. O tempo passava depressa. Aí chegou o Júlio e perguntou a que hora eu iria embora, pois o Diso queria me desenhar um Tex. Então ele foi lá tira-lo do cochilo e pouco depois o desenho começou a tomar forma enquanto eu finalizava a arrumação. Roberto Diso terminou o desenho justo no momento em que o relógio se aproximava das 17 horas e foi a hora da despedida. Senti uma forte emoção naquele instante, pois gostaria que não precisasse mais me separar deles. Mas não teve jeito. Trocamos um abraço e expressamos o desejo de nos vermos outras vezes.

Encontrei os amigos brazucas me esperando, foi a vez de despedir desse amigão paranaense sempre presente em todos os momentos texianos e seguir viagem com o Dorival. Nós então tivemos tempo de falar um pouco até de coisas pessoais e ele ao invés de me deixar no metropolitano Barra Funda, resolveu me levar até o Terminal Rodoviário Tietê. Não foi desta vez que o meu pesadelo de perder o voo aconteceu e chegamos ao terminal bem na hora pré estabelecida no meu cronograma. Mais uma despedida e os meus agradecimentos ao Dorival, que é um super anfitrião, e lá vou eu para o guiché comprar passagem para o aeroporto de Viracopos.

Cheguei nas Terras Quentes às 2 da madrugada, horário local, sem horário de Verão (tive que atrasar o relógio em uma hora). Desde o avião que eu vinha procurando o bilhete do estacionamento para efectuar o pagamento e retirar o meu veículo. Não encontrei de forma alguma e tive que preencher um documento para obter a liberação, mediante o pagamento, mas não tive qualquer acréscimo, porque tinha a passagem de ida e outros papéis. Apenas o do estacionamento evaporou. E uma última cavalgada na noite levou-me até à minha aldeia e 30 minutos depois já estava no ninho, relatando algumas coisas para a minha esposa.
Os ídolos…

E os amigos italianos, esses realmente são meio que cópia dos heróis a quem dão vida e o convívio com eles representa mesmo estar ao lado de Tex, de Zagor, de Mister No. Sim, eles tem um comportamento parecido. E quando estamos perto deles não se tem a vontade de ficar perguntando sobre uma história, uma aventura, de questionar, de perguntar por uma personagem. Lógico que esses “papos” entram naturalmente na conversa, mas logo somem para dar lugar a outras coisas mais factíveis do quotidiano de cada um.



Os 3 fantásticos já se foram, mas ficou em mim as marcas de um tempo que não passará, pois os momentos são eternos, estarão sempre presentes em minha lembrança, ainda mais agora que escrevi tudo e vou guardar uma cópia impressa, para que fique por muito tempo.

Saí de Sampa certo de que ‘todo texiano é, na sua essência, um grande homem’. E vou além, estendendo isso para os zagorianos de carteirinha, que são muitos no Brasil.
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