TEX WILLER

TEX WILLER
My name is Willer... Tex Willer !

sábado, 2 de fevereiro de 2013

G.G.Carsan no Fest Comix 2012

Este é sem dúvida o maior relato que já escrevi de um evento texiano. Pudera. Foi o maior evento mesmo. Então curtam aí. Foi publicado originalmente no Blog do Tex, de Portugal, na rubrica Tex sem Fronteiras.
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TEX SEM FRONTEIRAS

“Tudo pelo herói”

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G. G. Carsan: Tudo pelo herói
Há alguns meses, o editor Dorival perguntou se eu iria ao Fest Comix e em caso afirmativo, poderia ficar em sua residência, hospedado com os convidados italianos. Quando eu resolvi que iria e reservei a passagem, avisei-lhe que aceitava o honroso convite.
Dias depois…
A minha viagem foi épica do começo ao fim. O meu dia de 5ª. feira, 18 de Outubro foi um dos mais corridos da minha vida, ou pelo menos dos últimos anos. Tive uma reunião de trabalho às 9 – que começou às 10 – e aproveitei para rabiscar um texto para um compromisso que eu teria no início da noite, e saí dela apressado às 12.Passei no laboratório fotográfico para pegar umas fotos e não estavam prontas devido um problema na máquina – que custou 500 mil reais. Então peguei o caminho de casa e antes de chegar resolvi passar na costureira para pegar uma camisa feita sob encomenda. Mas não era uma camisa qualquer. Era simplesmente a nova camisa amarela que uso quando me visto tentando imitar Tex Willer. Bem, a costureira havia saído para resolver um problema de saúde e fiquei de voltar depois.
Cheguei em casa e corri para o computador ver as últimas notícias. Actualizei o Facebook e olhei os e-mails. Coloquei as fotos referidas acima numa pendrive para revelar noutro laboratório – pois queria entregar no prazo previsto para os clientes e antes de viajar. Então tocou o sino de aviso de que o almoço estava servido e corri para a mesa. Comi rapidamente e depois saí para ir ao laboratório e com outras missões previstas.
No laboratório do shopping deu tudo certo e foi rápido. Passei no banco e fiz um saque – tive medo que Mister Proteus tivesse passado antes de mim. Daí retornei para casa, mas antes passei na costureira e cheguei na sua casa ao mesmo tempo que ela, pois encontrei-a no caminho e dei-lhe uma boleia. Dali fui para casa, onde havia muito o que fazer.
Coloquei os livros novos que iriam para São Paulo numa caixa para proteger melhor, arrumei os apetrechos do cosplay do Tex numa sacola de mão, dei uma melhorada no visual (barba, unhas, cabelo) e terminei o texto que havia começado de manhã – e fiz uma leitura rápida, marcando o tempo, que foi 4 minutos. A tarde passou rápida. Também arrumei a mala com ajuda da minha esposa, conferi os dados do voo, dei mais uma espiada na Internet, e saí com Kika para um passeio bem rápido nos arredores.
Às 18:30 saímos para a Fundação Casa de José Américo, que completava 30 anos e haveria uma cerimónia comemorativa, ocasião em que o Governo do Estado assinaria a ordem de reforma da Casa, e por isso contaria com muitas autoridades. Do lado cultural, os últimos escritores que lançaram livros lá estariam relançando as suas obras e participando daquele momento especial. E eu, como o mais recente lançador,
fui convidado e devido à minha vestimenta, escolhido para fazer um discurso em nome de todos os autores – explicado agora o texto que escrevi durante o dia, né? Cheguei lá no horário previsto e coloquei os livros na mesa a mim reservada. Estava com a roupa, mas sem armas, chapéu, esporas, lenço. Só coloquei pouco antes da minha hora.
O governador acabou não aparecendo devido uma viagem e mandou o Vice-Governador, a Primeira-Dama foi, e também o Chefe de Polícia, todo paramentado. O local encheu-se de gente e com uma hora de atraso começou a cerimónia. Primeiro a formação da mesa e o Hino Nacional, depois uma apresentação de crianças tocando violino. Aí chamaram G. G. Carsan para fazer o discurso em nome dos autores presentes. Eu apareci de trás de uma árvore onde ficara quase despercebido – não deu para fazer uma entrada mais triunfal a la Zagor.
Mas não podia perder a chance e fui para o microfone, cumprimentei a todos e expliquei que estava vestido igual à personagem principal do meu livro. Para marcar bastante aquele momento, usei de força na voz, para ficar tronante – acho até que exagerei – e falei pausadamente, com algumas baixas entoações de voz. Não sei se coloco o texto aqui… acho que vou colocar para ficar gravado e divulgado para o mundo todo. Então lá vai:
Boa Noite!!!
Estou vestido igual à personagem principal do meu livro – o Tex, herói de revista de faroeste lançado no Brasil desde 1971. Bem…!
Exmo. Sr. Vice-Governador do Estado da Paraíba, Rômulo Gouveia
Exmo. Sra. Secretária Adjunta da Cultura, Amasile Vieira
Exmo. Sr. Presidente da Fundação Casa de José Américo, Flávio Sátyro
Em nome de quem cumprimento as demais autoridades presentes…
Caros amigos autores e artistas que se fazem presentes…
Caros amigos da mídia que eternizarão estes momentos…
Senhoras e Senhores,
Participar dos festejos e homenagens da comemoração dos 30 anos da Fundação Casa de José Américo é motivo de grande regozijo e honraria para todos nós. Esta Casa é um templo do saber e guarda a história e importância desse grande paraibano, que certamente está entre nós… e que tão bem representou a nossa Paraíba, e não só, guarda também a história de nossa terra através dos registos de nossos governantes do passado.
Lembro-me agora de que nesse momento dei uma olhada na plateia enquanto falava, encarando alguém aleatoriamente, sabendo que naquele momento todas as retinas estavam focadas em mim, mas não havia medo, pois ali ninguém era mais importante.
Para nós, autores, escritores, lançar um livro é como conceber um filho, um filho que já nasce pronto para ganhar os ares, o mundo!
Desde tempos imemoriais que o homem sentiu a necessidade de se comunicar e transmitir suas experiências. O que seria de nós? O que seria da humanidade sem os livros?
Nessa hora abri os braços cobertos pela camisa de mangas longas, amarelas e balancei a cabeça.
José Américo foi além, ultrapassou muitas barreiras. Foi romancista, ensaísta, poeta, cronista, folclorista e sociólogo. Lançou 14 obras e a mais destacada foi A Bagaceira. Foi advogado, promotor, procurador, secretário, deputado federal, ministro, governador, fundador da UFPB e ainda pré-candidato a Presidente do Brasil.
Esta parte eu havia pego na Internet para dar mais corpo à minha fala.
E nos deixou este legado. Esta casa maravilhosa.
Então, é este um grande momento para todos nós, que seguimos os exemplos de José Américo e de tantos outros escritores de nossa terra, que por certo é bastante profícua em formar homens curiosos, tenazes, insaciáveis, visionários, nos campos das ares, do saber, das letras… da política.
Cheguei aqui alçado pela condição de coleccionador de quadradinhos desde a minha infância e com o passar do tempo escrevi histórias, matérias e causos sobre a personagem e comecei a vestir-me igual nos eventos da área. A personagem é Tex, herói de quadradinhos de faroeste, nas bancas brasileiras desde 1971 até nossos dias.
Faço isso porque acredito na mensagem, postura e importância da personagem e utilizo-me dessa imagem para incentivar a leitura, principalmente mostrando que História em Quadradinhos é Cultura.
Repito: é incomensurável a alegria de fazer parte deste momento. Graças a Deus, fiz a escolha certa em lançar os meus dois livros aqui na Fundação. Hoje sou, somos honrados por isso.
Até aqui arrisquei umas três olhadas para o público. Eu escrevi o discurso com letras grandes, palavras bem espaçadas, mas o local era a céu aberto.Tive um medo de precisar usar óculos para ver bem, mas não foi necessário. Imaginem um cowboy usando óculos…
Para finalizar, quero lembrar as palavras de Monteiro Lobato:
“Um país se faz com homens e livros”.
… e pedir ao nosso Vice-Governador que continue olhando para a cultura paraibana, ampliando o FIC – Fundo de Incentivo à Cultura – e facilitando a vida de quem produz por amor à terra, ao povo, à Pátria…
E pedir a palavra a José Américo e dizer:
“Vamos fazer a política dos pobres, pois a dos ricos já está feita”.
Nessa hora alguns olhos se mexeram… mas não liguei.
Considero que é muito difícil para um autor independente, como eu, lançar um livro. Nossas livrarias são recheadas de publicações estrangeiras. Precisamos mudar isso.
Todos nós estamos aqui porque, assim como Pedro Américo, acreditamos que era possível. Hoje é facto.
Continuemos a batalha.
Amanhã estarei em São Paulo lançando o meu livro no maior evento de quadradinhos da América Latina, mostrando que a Paraíba não pára.
Senti orgulho nessa hora, pois sei da luta de muitos que conseguem um lugar ao sol. Nem percebi que troquei o nome do homenageado e somente quando alguém me disse é que caí na real.
Parabéns à Casa, aos servidores, aos autores aqui presentes.
Viva a cultura paraibana.
Sucesso para todos! Boa noite! Obrigado!
Vieram outros discursos que demoraram mais uma hora, foi assinada a ordem de serviço para a reforma e a seguir fomos para o local onde os autores estariam diante de seus livros e o público circularia e seria servido um lanche, com direito a bolo de aniversário.
No salão da Casa nos posicionamos e recebemos os visitantes. Alguns foram olhar o livro do Tex e consegui vender um do primeiro, para um novo amigo texiano. Um autor do meu lado, que escreveu um livro sobre Lampião se declarou fanzaço do Tex e que tinha tudo, menos os dois livros. Ficamos de conversar para ele conseguir. As vendas foram muito poucas para todo mundo. Era mais um momento de fiesta.
Ainda deu tempo para falar com as autoridades, trocar algumas figurinhas, fazer algumas fotos e então desmanchamos o circo e deixamos a Casa de José Américo para trás e fomos parar num quiosque para reforçar o estômago. Ali tive que marcar um encontro por telefone com o pessoal do trabalho para que viessem a mim pegar um documento que estava comigo. Deu certo. Então voltei para casa para terminar de arrumar as coisas e no corre-corre percebi que estava ansioso e a pressão havia subido, eu não estava muito bem. Então tomei um comprimido do medicamento que ingiro regularmente para controlar a pressão arterial.
Voo 1081 João Pessoa – Viracopos – SP: 03:35 do dia 19 de Outubro de 2012 – conexão e troca de aeronave no Rio de Janeiro – Aeroporto Antonio Carlos Jobim.
Continuei indo e vindo dentro de casa e somente pela meia-noite é que terminei tudo. Linda foi deitar-se e fui olhar os e-mails. Eu não quis deitar, pois dormir uma hora não ia resolver e tenho muito medo de perder uma viagem – há um sonho recorrente de que estou correndo para o aeroporto, atrasado, com trânsito parado na Marginal Tietê – acesso ao aeroporto -, desde os tempos em que morava em São Paulo -. Então para me acalmar tomei um calmante, relaxante, desestressante… e fiquei na TV, no computador, no banho… e faltando um quarto para as duas da madrugada, despedi-me de Kika, de Belinha, da minha esposa, que dormia, com um beijo e fui para a garagem. O vira-latas olhava-me, querendo ir junto. Sem fazer barulho, saí e dirigi-me para o aeroporto no meio da madrugada. Um mal estar incomodava-me, mas eu sentia-me medicamentado e acreditava que ficaria bom, rapidamente. Até o aeroporto tudo correu bem, deixei o veiculo no estacionamento ao preço de R$ 15,00 a diária e começaram os problemas, pois tive excesso de bagagem e tive que pagar, lógico. A seguir fomos nós para o espaço. Dormi assim que o avião subiu.
Acordei duas horas depois e senti as mãos e os pés em leve comichão. Procurei uma posição melhor e não veio. Senti uns calafrios e em alguns minutos senti um terrível mal estar, senti que a vida estava me deixando, na verdade um desmaio – foi horrível. Um medo súbito se apoderou de mim e comecei a rezar, depois entreguei a Deus a minha alma e a coisa foi piorando. Então veio-me a experiência e comecei a tossir como forma de manter o peito agitado. Percebi que estava com a pressão baixa. Tossindo mantinha o coração em movimento, o estômago trabalhando, e tudo o mais. A minha tosse espantou a minha vizinha que começou a gritar que eu estava passando mal e daqui a pouco juntou um monte de gente perto, entre eles um médico, de nome Peixoto.
Ele tomou o meu braço, segurou o pulso e percebeu que eu estava com uma crise de hipotensão, pressão baixa, e começou a falar comigo, pedindo calma, que respirasse profundo, que abrisse e fechasse as mãos, que respirasse, que ficasse tranquilo e passou a perguntar onde eu morava, o que eu fazia, onde estava indo, e falava dele também… e pouco depois eu estava bem melhor, o pulso voltou a dar sinal de vida. Alguém da tripulação disse que o avião pousaria no Rio de Janeiro em 20 minutos. E fui realmente melhorando e anotei o nome do médico e trocamos algumas palavras e prometemos um reencontro no futuro (já aconteceu, ele passou na minha residência).
O pessoal da Gol tratou-me com muita atenção e resolveram que eu não deveria seguir viagem na conexão que me levaria a Viracopos – em Campinas – SP, mas que iria para o hospital da Infraero e somente quando me recuperasse é que continuaria a viagem. Lembrei do Zeca (José Carlos Francisco) que veio de Portugal ao Brasil sentado no corredor do avião, numa viagem de 9 horas, em 2010 e pensei que era sina de texiano. Fizeram os procedimentos para a minha bagagem ser retirada do avião. Fui para o hospital de ambulância e lá fiquei numa maca, directo no soro/medicamento, com pessoas muito atenciosas que mediam a pressão a cada 15 minutos e perguntavam se estava melhor de vez em quando. Quando a pressão retornou aos 13 x 9 fui liberado e ao sair no atendimento havia uma funcionária da Gol esperando para me levar a despachar a minha bagagem e nisso pedi um voo que me levasse agora directo para Guarulhos, em S. Paulo – SP e fui atendido. Feito o check-in fui para a área de embarque e ao passar no raio-X fui barrado porque na bagagem de mão foi detectado metal – as esporas; e ao abrir para o fiscal ver, deparou-se com as armas de gesso e então pediu para despachar. Tive que voltar ao check-in e fazer o procedimento, faltando somente 15 minutos para o voo. Era 9:20 da manhã.
Sampa e seu Fest Comix…
Uma hora e pouco depois eu estava em Sampa, diante da esteira, pegando minha bagagem, que estava toda em ordem. Aí tomei um autocarro (ônibus no Brasil) para a Barra Funda, local mais próximo da casa do Dorival Mythos, mas lá chegando, não consegui falar com ele pois estava tudo congestionado e nada de completar a ligação. Pedi para ligarem para mim e nada. Aí eu não sabia se viriam buscar-me e tive medo de pegar um táxi e desencontrar. Mas lá pelas 14:00 ligaram-me da Mythos e pediram para eu ir de táxi. Aí sem medo de desencontro, fui directo para a Casa dos Sonhos, onde rolava um churrasco de boas-vindas para os convidados italianos. Como eu conheço a região, não tive receio e fomos directo. No trajecto o taxista foi me contando as mais actuais sobre o Palmeiras, que lutava desesperadamente para não cair para a segunda divisão.
Cheguei à Mythos e a primeira pessoa que vi foi o Helcio, que estava na porta, tratando de um negócio com um funcionário. Fui entrando, coloquei as minhas coisas numa sala e adentrei pela editora. De cara vi o Marcos Maldonado, a Dolores e o Felipe Frolich com a esposa e bebé numa mesa na beira da piscina, à direita de quem entra naquela parte que é o quintal, e que cumprimentei e segui… atravessei o ambiente e fui até lá onde eles (os italianos) terminavam de almoçar e conversavam animadamente.
Fabio, Moreno, Diso, Sergio Pignatone com a esposa Nadia e o secretário Nicolò. Por mil índios enfurecidos! O Fabio levantou e deu-me um abraço junto com aquele seu sorriso franco e disse “Ciao GG! Grande prazer encontrar você!” (falou em bom português com aquele sotaque); Por mil tambores, também Moreno levantou e disse: “Gia ci conosco de lettera e e-mail, però lieto de conoscervi di verità”. Cumprimentei os demais na mesa, em pleno final de almoço e deixei-lhes à vontade.
O pessoal da Mythos estava muito animado, bebendo, comendo e conversando muito, capitaneados pelos patrões Dorival e Helcio e a presença sempre marcante do nosso amigo Júlio Schneider. O Caio, filho do Dorival, estava reunido com a turma da editora, mandando ver na cerveja, que estava geladíssima, e tinha em abundância. O churrasco feito pelo Levi, não é o Trindade, também estava magistral, e ainda havia o delicioso pão com alho. Saiu até um cafezinho no fim da tarde. Enfim, serviço completo.
Estiveram por lá o Nilson Farinha (do Zagor e Júlia Kendall), o Levi (ex-Mythos e actual Panini) e Giovanni Voltolini, numa conversa super animada sobre quadradinhos. Rolou de tudo nessa conversa, desde as pretensões da Panini, o que pode dar certo, o que pode dar errado, as opiniões de uns e de outros, a favor ou contra, as defesas, etc. Eu almocei, fiquei ali perto do balcão, curtindo, tomando uma cerveja, pois já me sentia bem, conversando, relembrando e falando de momentos antigos, das nossas conversas e de nossas dúvidas… sempre brincando, rindo. Houve o famoso banho de piscina para alguns rapazes já embalados pela cerveja.
Dei uma espiada rápida na nova sede da Mythos, que ficou magistralmente bem instalada num local bem perto do prédio anterior. Chamaram-me a atenção 3 pósters muito bem feitos e importantes, como um de Zagor, um enorme com as publicações da empresa e um gigante, 3,45 x 2m, imagino, do Tex colocado na parede onde fica a curva da escada. E também vi de relance a sala onde fica o depósito das edições bonellianas, repleto de prateleiras recheadas de revistas novinhas. Cansado, separei-me do grupo por algum tempo e tirei um cochilo num sofá. Quando retornei a conversa seguia firme e o frigorífico recebera novas latas de cervejas geladas. Até esse momento, ainda havia uma certa divisão de brasileiros para um lado e os italianos de outro, mas isso acabou logo, quando o Moreno começou a fazer fotos com o seu table e reuniu a turma.
Saímos de lá passava das 20 horas e fomos para a casa do Dorival, onde chegamos e fomos nos recolher, pois no dia seguinte havia o Fest Comix para enfrentar. O primeiro a sumir foi o Moreno Burattini, que se despediu e foi para o quarto. O Fabio ainda saiu para jantar com uns amigos. Eu fiquei por ali, arrumei minhas bagagens e tomei banho e somente perto da meia-noite é que deitei.
O meu sono não demorou muito, pois lá pelas 4 da manhã acordei e fiquei rolando. Senti o peito batendo forte e uma ligeira perturbação no braço. Isso dá um medo de qualquer complicação e eu já vinha de uma má experiência bem recente. Então não consegui pregar o olho. Depois de um tempo, fucei na bolsa e peguei um comprimido que sempre carrego aonde vou – dica de um médico para carregar sempre um comprimido de izordil, um sublingual que pode salvar uma vida em caso de enfarto – e assim agi, ficando ali no meio da noite, esperando o tempo passar… mas continuei meio mal e às 6 da manhã levantei e tomei o meu remédio para a pressão e voltei para o leito até que o Dorival apareceu na sala lá pelas 8 horas. Ele chamou todo mundo e pouco depois descemos para tomar café numa padaria ali perto. Pedi suco de chuchu com laranja para ajudar a baixar a pressão e tomei uma salada de frutas. Depois voltamos ao apartamento de Dorival e nos preparamos para ir para o evento.
O veículo do Dorival é um tipo Pajero e eu viajei sempre no camburão, atrás, para não perturbar os ídolos. O Júlio quis trocar comigo em algumas ocasiões, mas eu não aceitei, pois ele era o tradutor de muitas conversas, ou da maioria. Eu seguia ouvindo, atento ao linguarejar, às expressões, às brincadeiras, às curiosidades deles em relação a São Paulo, às histórias envolvendo os quadradinhos.
Descemos em frente ao evento e havia uma fila enorme dando a volta no quarteirão. Eu peguei a caixa de livros que levei e o Júlio carregou a minha bolsa. Apresentamo-nos e após conferência numa lista, entramos e fomos directo para o espaço Mythos, o mesmo de 2010. Lá havia 4 mesas e cada uma foi ocupada por um artista (estou me incluindo aí, de enxerido), na ordem Diso, Civitelli, Burattini e eu, da esquerda para a direita. Não tardou a aparecer o nosso pessoal.
Como todos sabem, o Fabio Civitelli e o Moreno Burattini vieram ao Brasil lançar o livro O Meu Tex – A Balada do Oeste, com desenhos daquele e textos deste. A Mythos também lançava o Zagor Gigante. Havia ainda o livro romance escrito pelo Burattini meses atrás lançado aqui no Brasil, Os Muros de Jericho. Estes e outros mais assinados por esses autores estavam sendo adquiridos e autografados. E veio na comitiva o grande Roberto Diso, desenhador de Mister No e de Tex anuais, como sabemos.
Assim que entrei, encontrei logo o Jorge Comix e entreguei-lhe os livros e ele foi providenciar para colocar à venda. Mas quase uma hora depois, um texiano veio a mim e disse que não havia encontrado o livro. Estava chegando um Senhor de uns 65 anos, texiano, com o livro em mãos para autógrafo e eu perguntei-lhe onde encontrara o livro e ele disse que numa gôndola que não era a dos produtos da Mythos. Então fui até o hipermercado de quadradinhos e dei uma volta por lá até encontrar alguns livros Tex no Brasil junto com as colecções de Ken Parker. Eu mesmo retirei dali e levei para o local apropriado, junto com o livro do Fabio Civitelli/Moreno Burattini e revistas da Mythos, e entrei em contacto com o responsável da área e resolvi o problema.
Até às 14 horas foi um movimento muito grande, com fila para Fabio e Moreno, de forma que foi complicado até parar para o almoço. Os texianos iam chegando e não arredavam pé. Não tinha esse negócio de comprar, conseguir o autógrafo e ir embora. Todos ficavam por perto, conversando, conhecendo os demais, adquirindo mais um exemplar e conseguindo novo autógrafo e assim o tempo passou. Passou por lá o texiano Antonio Spadoni, de 70 e tantos anos, com diversas Revistas Júnior para nos mostrar (ele esteve lá em 2010 justo quando Civitelli havia saído e perdeu a chance de conhecê-lo, mas dessa vez apressou-se). Também esteve lá quase o dia todo o pard piauiense José Renato, acompanhado da filha, adquirindo muitas revistas, livros e curtindo esse grande momento com muitas dedicatórias, autógrafos e fotos com os amigos e ídolos.
João Marques foi um que passou o dia e adquiriu muito material, inclusive um desenho do Fabio Civitelli em tamanho A3, p/b, com uma dedicatória exclusiva e uma pasta que tem a estampa da capa do livro O Meu Tex. Quem também adquiriu um desses foi o Domenico, texiano, empresário, italiano, que habita em São Paulo, um homem extremamente educado, fino, paciente, que ficou um bom tempo por lá. O terceiro desses que vi sendo adquirido foi para o Levi Trindade, esse sendo colorido. Em 2010, o Fabio havia trazido material do mesmo quilate, mas não anunciado e só ficamos sabendo ao fim do evento. Dessa vez, eu lembrei desse detalhe e fiz o merchandising.
Zé Ricardo com o seu tablet e suas mil e uma histórias e experiências e Wilson Sacramento com a camiseta do Tex no Brasil, estes dois cabras arretados, não arredaram o pé durante todo o tempo e além de formar o exército, também auxiliaram bastante, seja na política da boa vizinhança, fazendo fotos, dando corpo e alma ao evento. Nós éramos tantos que o pessoal parava para ver o que estava acontecendo ali. A fila permanente chamava a atenção. Os desenhadores incansáveis…
Quando foi dado o sinal para o almoço às 14 horas e soube do Júlio que só retornaríamos às 16, resolvi ficar no stand para receber quem pudesse aparecer nesse horário, pelo menos para dar uma satisfação. Então o pessoal foi almoçar uma feijoada, inclusive alguns texianos e zagorianos. Eu aproveitei para finalmente colocar a roupa do Tex, pois até ali estava com a camiseta. Nisso, foi dado início ao concurso de cosplay e queria participar e até estava inscrito, mas acabei deixando para o domingo. O nosso pessoal acabou demorando mais do que o previsto devido ao restaurante lotado e ao trânsito complicado – e mais uma chuva que caiu na região. Com isso, alguns texianos que haviam comprado o livro do Civitelli, não conseguiram autógrafo – ficou para uma próxima ocasião.
Os pards que passaram por lá foram fotografados e muitos aparecem nas fotos da matéria publicado neste blog pelo Ezequiel Floyd Guimarães. Todos, todos mesmo, os já conhecidos e os novos, todos elogiaram as performances dos astros italianos. Fabio faz muitos e muitos desenhos exclusivos para seus fãs, além de autografar o desenho já impresso de Tex diante da Praça da Sé, um dos principais cartões postais de São Paulo. Moreno também deu muitos autógrafos, conversou com fãs, desenhou machadinhas e Chico em suas dedicatórias, além de analisar desenhos e dar sugestões para novos desenhadores. E Diso, que não tinha nenhum lançamento, mas por ser um homem muito simpático e ter um nome junto ao Tex e a Mister No, também foi bastante requisitado.
O meu livro estava saindo aos poucos. Eu aproveitava para conversar com todo mundo, fotografar as mesas e fila e de vez em quando era chamado para fotografar com crianças que iam passando, algumas trajadas de Super Herói, e mesmo alguns marmanjos e até belas moçoilas. Nos autógrafos que dei, aproveitei para escrever bastante, justificando que se o desenhador levava um tempo para fazer o seu autógrafo devido ao desenho, eu também levaria o meu tempo fazendo o que gosto: escrever.
Logo cedo eu havia perguntado ao Dorival que horas seria a palestra com os astros italianos e a resposta foi: Não tem palestra. Já era tardinha quando o assunto voltou à baila e o Júlio perguntou pelo Dorival para saber se haveria palestra ou não, pois alguns visitantes estavam esperando pela dita cuja, que figurava na programação. Então ficou esclarecido que figurava na programação, mas não havia sido acordada com o Dorival, e por isso não houve preparação. E o que fazer então? Havia pouca gente para a palestra, mas havia. Assim, depois de alguns acertos, fomos todos para o auditório e tomamos conta do pedaço. Para formalizar o momento, o encarregado do evento anunciou o inicio e Moreno e Fabio subiram para o palco. O começo foi bastante informal, os dois ensaiando uma música e o Júlio incentivando. Desde cedo, em casa, que o Fabio vinha cantarolando uma toada de Vinícius de Moraes e provando ser muito bom conhecedor de músicas da Bossa Nova. Quando começou para valer, falando de Tex e Zagor, eles falaram do prazer de estar no Brasil e de participar de um evento de tão grande repercussão e sucesso.
Eu perguntei algumas vezes o que não havia feito durante todo o tempo em que estivemos juntos: 1 – Para quando o Civitelli no Zagor e o Burattini no Tex? Fabio respondeu que não se sabia, pois para trabalhar com o Tex não basta querer. É preciso ser convidado. Então podemos imaginar que é mais fácil o Fabio ir para o Zagor, até porque o Moreno é o curador e principal roteirista do Espírito da Machadinha e tem muito trabalho nas costas. Outra pergunta que fiz: Por que se fez tantas homenagens a Sergio Bonelli, por que foi mais sentida a sua morte do que a do seu pai, do criador de Tex, Gian Luigi Bonelli? A resposta do Fabio e corroborada pelo Burattini foi que o Bonelli pai já havia parado de trabalhar há um bom tempo e estava afastado, e já vinha doente quando faleceu, e com Sergio foi totalmente inesperado. Ainda hoje se imagina que a qualquer momento o Sergio possa voltar a trabalhar depois de uma viagem a uma parte remota do Planeta. Uma coisa interessante dita ali pelo Moreno foi que o Sergio ia de sala em sala, todas as sextas-feiras dar tchau e desejar um bom fim de semana e até segunda-feira a todos os colaboradores e curiosamente, naquela sexta ele não fez isso, como se já soubesse que não retornaria.
Também foi dito que a editora SBE estava em boas mãos, os homens que estavam à frente eram grandes profissionais e tudo continuaria sempre bem conduzido. E falaram que no futuro próximo haverão experiências para não se ficar muito longe das inovações, mas que todos sabem o que o público gosta e por isso trabalham com afinco para satisfazer as suas mais dignas aspirações.
O Diso também subiu para o palco e falou de seu trabalho com Mister No e principalmente com Tex, dizendo que está desenhando uma aventura bastante longa, que poderá sair no título Anual ou noutro, e com o trio completo houve muita conversa boa, falando do fumetto, naquele tal de bate-volta. Adriano Rainho e José Ricardo fizeram perguntas e obtiveram as suas respostas. Terminaram os ídolos cantando algumas músicas para descontrair. E ao final, os pards Wilson Sacramento e Filipe Chamy pediram uma entrevista com Dorival Mythos para ficarem por dentro das próximas jogadas editoriais envolvendo as publicações actuais e possíveis novidades – que já foram divulgadas em blogues ou perfis.
Lá pelas 20 horas o Editor de Bermudas terminou a sua entrevista e pegamos as nossas bolsas e abandonamos o local, com muita gente ainda circulando, comprando, chegando. Mas os nossos heróis estavam no ar desde manhã, desenhando e autografando. Era hora de recarregar as baterias.
É, ainda havia fila para entrar. A fila era enorme para entrar e enorme para pagar. Ouvi relatos de pessoas que passaram quase duas horas na fila para pagar. Muita gente carregava 10 quilos de revistas. Haja paciência. Por isso, a próxima edição do Fest Comix deverá ser num local maior pois ali não mais comporta tanta gente. Ficou pequeno. Todavia, a localização é perfeita. Junto do metropolitano, da Av. Paulista, etc. Faltou uma pré-venda de ingressos que eliminaria aquela fila enorme na calçada.
Fomos em dois carros para a romântica Vila Madalena, em uma pizzaria muito boa de nome Babbo Giovanni, famosíssima e gostoséssima, e ali uma mesa para 14 pessoas. Dessa vez havia menos fãs do que em 2010, quando estivemos no mesmo local. Somente eu e o Zé Ricardo estivemos ali entre os medalhões. Certamente outros pards não foram devido ao deslocamento, horário, distâncias, etc. Fiquei ao lado do Dorival, de frente ao Fabio, ao lado do Júlio, e junto ao Helcio e Franco de Rosa. O Zé Ricardo, não por acaso, ficou próximo do Moreno e do Diso, do outro lado, onde também estava o pessoal da Little Nemo, com o Sergio. As conversas correm soltas nessa hora, com alguns questionamentos e várias perguntas. Mas deixamos a banda desenhada de lado por um tempo e tratamos de curiosidades entre as duas culturas e até relatamos experiências pessoais. De vez em quando uma risada gostosa, uma piada, que momento bom de descontracção. No cardápio pizza e cerveja.
Chegamos em casa, banho e cama para todo mundo. O cansaço e a hora – passava das 23 horas – falaram mais alto. Eu deitei e fiquei imaginando como seria o domingo, mas dormi logo. Mas estava escrito em algum lugar que as coisas tomariam outro rumo dentro de pouco tempo. E foi assim. Lá pelas 4 horas eu acordei com uma certa irritação no braço esquerdo e uma pequena ânsia no peito e rapidamente percebi que a minha pressão devia estar alta. De novo os mesmos sintomas e fiquei muito chateado de acontecer. Levantei e fui tomar água, voltei a deitar, mas com aquele incómodo. Ficou um sono leve e chato. De manhã tomei o remédio e fui para o café. Não estava nada bem e agora o estômago estava embrulhado, sentia um desconforto e uma fraca dor de cabeça. O meu café foi simples mesmo: uma salada de frutas e um gole de café. Depois fomos para o Festival. Peguei a minha bolsa com a roupa do Tex quase sabendo que não conseguiria usá-la, mas ainda esperava uma melhora repentina. A gente tem que acreditar.
Chegando ao Fest Comix a mesma visão mágica de ver a fila dobrando o quarteirão (mas não é fila de um atrás do outro, mas de muita gente aglomerada, tomando a calçada), a área da bilheteira lotada e lá dentro o movimento já bem grande. Os nossos heróis prepararam-se para os trabalhos e eu fui directo para o ambulatório que havia no local. Lá a primeira providência foi medir a pressão, que estava um pouco alta, mas nada alarmante, só 13 x 10. Como eu havia tomado o meu medicamento, restava esperar melhoras. Para o estômago, pedi um sal de frutas, mas não tinha ali e pedi para alguém ir comprar. Depois deitei numa maca e tentei relaxar. Fiquei ali por mais de uma hora. Recebi as visitas do Júlio, Dorival e Maldonado. Tomei o segundo sal de frutas e resolvi encarar a turma mesmo com cara de doente.
Fui para o stand e lá estava recheado de amigos. Então fiquei fazendo clics de algumas cenas e conversando com quem chegava por lá. Passei mais de uma hora, sempre sentado, observando o movimento, e de vez em quando pensando na oportunidade perdida de participar do cosplay e até de estar mais activo… mas sempre me conformo com tudo, pois tem dia e hora para tudo.
Lá pelas 14 horas, foi dado o sinal de recolher e nos preparamos para partir, agora de forma definitiva. Mas primeiro fomos almoçar ali nas redondezas, atravessando a Av. Paulista e indo para o outro lado – o lado dos Jardins. Moreno fazia algumas fotos e chegamos ao local, que estava lotado. Esperamos 10 minutos por uma mesa desocupada. Eu ainda estava ruim, mas sabia que precisava alimentar-me e enfrentei uma porção de arroz, um pouco de salada e um pedaço de carne… e água gaseificada. Comi pouco, mas o suficiente para escapar. O estômago aceitou bem e na saída ainda voltamos na Paulista para o Moreno fazer uma foto bem ao centro da via, do canteiro central, levando esta bela recordação onde ele participa da paisagem junto ao Fabio num clique feito por mim.
Pegamos o caminho de volta para a aldeia central e uma vez lá, tivemos uns minutos de pura descontracção nos quais o Diso e o Júlio conversavam a respeito da minha indumentária e ofereci para o desenhador vestir para testar e ele colocou o coldre e o chapéu e entrou numa brincadeira de luta com o Júlio, arrancando risadas de todos e até algumas fotos… cada um tomou um rumo diverso: o Júlio e o Diso foram para o apartamento do Helcio, o Fabio e o Moreno desceram para relaxar na beira da piscina e arriscaram alguns mergulhos, o Dorival foi resolver umas coisas e eu, bem, eu precisava fazer alguma coisa e aproveitei para dormir e recuperar mais e mais as forças.
Acordei na boca da noite e começou o movimento na sala. O Dorival chegou com uma pilha de livros para o Fabio Civitelli autografar. Era uma lista bem comprida. Para o Zeca, para Mário, para o Magalhães, para o Gervásio, etc. etc… chegaram os familiares do Dorival e o Fabio foi intimado pela neta do editor a fazer um desenho dela como Lilyth e ficou muito bonito. E eu liguei o computador e o Moreno veio para meu lado para vermos as fotos e trocarmos ideias. Mas quando parecia que só pararíamos na hora de dormir, chegou o Helcio com um convite para irmos jantar no Itaim Bibi, bairro da Zona Sul, boémio, chiquérrimo, e sem qualquer preparação lá fomos nós para mais uma viagem, dessa vez pela Marginal Pinheiros (via que segue pela margem do Rio Pinheiros, sentido norte-sul, quase na extremidade oriental da cidade, – são 6 pistas em cada sentido).
Chegamos ao Sallvatore Bar e Ristorante e esperamos um pouco por uma mesa curtindo deliciosos petiscos e já iniciando uma conversa muito boa sobre costumes de lá e de cá. Sentei-me junto ao Roberto Diso, que estava meio calado naquela ocasião e de pronto perguntei-lhe se estava gostando do Brasil e ele disse que sim. E ele continuou dizendo que já havia vindo uma vez, directo para a Amazónia, apenas fazendo uma escala de voo em São Paulo. A próxima pergunta foi se estava se documentando para realizar os trabalhos de Mister No e ele disse: Não, foi depois que havia parado de desenhar as aventuras. Foi a Manaus e dali viajou por 5 dias de barco subindo o Rio Negro e conhecendo as cidades e entrepostos ao longo do rio. Não visitou tribos indígenas e não viu índios belicosos ou caboclos endiabrados. Mas gostou muito de conhecer pessoalmente aquele maravilhoso mundo.
Agora imagine jantar com seus amigos num ambiente com luz pouco acima de penumbra, local aconchegante, nomes como Dorival Mythos, Helcio de Carvalho, Júlio Schneider, Roberto Diso, Moreno Burattini e Fabio Civitelli, tomando um drink clássico (no meu caso foi água tónica mesmo) como Belini do Harrys Bar de Veneza e provando uma caporata ou um Crudités com azeite de manjericão… é, você está no Sallvatore. Eu lembro-lhes que estava me recuperando e não pude ingerir vinho e escolhi uma macarronada à puttanesca para levantar o moral, né? Uma delícia, mas era tanta que fui obrigado a deixar um pouco, ou passaria mal. O Moreno é que se divertiu muito com o seu prato. Não posso esquecer que brindamos a Tex, a Zagor, à amizade…
Dali directo para casa onde nos esperava mais uma rodada de autógrafos. Só então chegou a minha vez dos meus autógrafos – que não foram muitos – porque fico envergonhado e tal, mas ganhei coragem e pedi ao Fabio Civitelli alguns desenhos assinados para alguns amigos que não estiveram presentes por motivos diversos, principalmente a distância, e ele fez com muito gosto e ainda assinou 5 desenhos sem nomes para algum pard que eu quisesse oferecer.
Civitelli fez questão de desenhar um Tex para mim na capa interna do Tex Gigante, e senti que fazia com grande prazer, talvez por eu não ter pedido. Ele percebeu que eu fiquei sem graça, mas também feliz. No livro O Meu Tex, ele autografou e desenhou um revólver e o Moreno assinou e desenhou uma machadinha, o Júlio assinou e disse que não tinha o que traduzir e o Dorival assinou e anotou a data. Perfeito. Agora me dou conta que faltou o Diso autenticar a obra, mas é porque ele havia subido para o apartamento do Helcio.
E durante estes momentos de assinatura, confirmamos que no dia seguinte, eu e o Fabio iríamos ao centro de São Paulo dar um giro pelas lojas de fotografia, que são nossas paixões 2, e o Dorival ficou de nos levar. Já o Moreno, o Júlio e o Diso teriam outros afazeres. Eu iria em compra de uma lente Canon e de uma bateria para o meu studio fotográfico… o Fabio queria encontrar uma câmara que pretendia comprar.
Ai tivemos o nosso primeiro momento fotográfico. Fabio mostrou-me fotos de sua autoria, chamando a atenção para as composições. Cabe dizer que ele é um fotografo de mão cheia, com conceitos bem próprios e que busca imagens (nesse momento) em edifícios e paisagens que fujam do convencional, com linhas que parecem mas não são o que se pensa à primeira vista. Outra coisa: o Fabio Civitelli ainda não é usuário de máquina fotográfica digital, utiliza sim o velho e quase esquecido filme. A sua câmara é analógica, manual, com filme. E ele até se gaba de continuar assim. Na verdade, ele domina os conceitos fotográficos e gosta de se manter assim. E as fotos dele são realmente belas composições. E cumpre dizer que ele não sai fotografando as curiosidades, as belezas, as moçoilas, os mendigos… nada… só clica o que lhe interessa como trabalho, para compor seu portefólio, suas futuras exposições, livros.
Ainda tivemos um novo momento fotográfico quando o Dorival nos chamou para opinar sobre a veracidade de algumas imagens tidas como pinturas e que me pareceram fotos mesmo. É como se fosse feita uma foto de uma paisagem e houvessem pintado por cima, tamanha a perfeição. São as fotos impressionistas.
Mas aí era hora da última pernoite próximo dos nossos heróis de verdade.
Na manhã seguinte, o Dorival saiu cedo para a editora para efectuar pagamentos e nós fomos para o café da manhã. Ao terminar, vi que já batia 9 horas e na volta para casa, enquanto o Fabio apertava o botão para que o semáforo fechasse para os carros e abrisse para nós, e combinei com ele de irmos de táxi-metropolitano. Ele concordou de pronto. Fizemos as devidas comunicações e saímos, com o Fabio levando a sua Leica a tiracolo. Confesso que fiquei um pouco apreensivo, pois não gosto de andar na rua com nada que atraia ladrões.
Fotograficamente…
Táxi, depois metropolitano, sempre trocando informações de nossas realidades, ele se esforçando sempre para falar em português, tomamos o metropolitano na Barra Funda e chegamos ao ponto central de Sampa: Viaduto do Chá – que passamos por baixo, pelo Vale do Anhangabaú . Ele já estivera ali antes. Seguimos para a rua Conselheiro Crispiniano, nos anos 90 recheada de lojas de fotografia, hoje uma lembrança do que foi (mas ainda tem umas 6 lojas). Iniciamos a caminhada indo de loja em loja, pesquisando os preços da lente e nada de ter a bateria que eu queria e ele não encontrando a câmara que procurava.
Os meus preços foram oscilando para baixo e fui me enchendo de esperança de fazer um bom negócio. Então passei a ver a possibilidade de realizar uma compra à vista, para baratear ainda mais. Por fim, encontrei uma bateria já depois de atravessar a rua Sete de Abril e entrar numa galeria onde tem muitas lojas de material fotográfico. Comprei logo e ficamos a ver outros materiais. Por fim, decidi comprar a lente na loja que havia dado o menor preço. O Fabio ajudou-me na decisão, apoiando a minha escolha. Dali fomos pela Sete de Abril na direcção do Banco do Brasil para eu fazer uma transferência bancária para a loja.
Estávamos a 40 metros da Praça da República e eu quis mostrar-lhe aquele espaço importante e ao mesmo tempo tão contrastante, pois ali moram mendigos que tomam banho no lago e nas fontes, drogando-se de noite e dormindo ao relento de dia. E tive a oportunidade de mostrar-lhe o Edifício Itália, já tão famoso. Ele ainda perguntou pelo edifício que faz uma curva, o Copam, mas aquele é melhor visto de cima do que de baixo. E já havia o avançado da hora e não tivemos como dar uma volta na região. Trilhamos a rua Barão de Itapetininga e expliquei-lhe aquelas pessoas paradas ao sol, com banners pendurados no pescoço, com listas e listas de empregos e serviços ofertados, principalmente para aqueles que buscam o primeiro emprego, e na maioria os que não tem computador e acabam de chegar na megalópole.
Depois de conseguida a máquina, seguimos para a Praça da Sé, passando o Viaduto do Chá, agora por cima. Além das cartomantes lendo as mãos das pessoas e dos vendedores de cigarros, telemóveis e doces, passamos no meio de uma manifestação do partido político PSDB, devido à proximidade das eleições em segundo turno, e uma jovem tentou adesivar (colocar autocolante partidário) na camisa do Fabio, que se esquivou e seguiu em frente, entre risos e curioso.
Vencemos a rua Direita, que é torta, e na Praça da Sé nós passamos bem ao centro, com interesse especial na Catedral, que fora desenhada pelo próprio Civitelli com o Tex em primeiro plano para presentear os visitantes no Fest Comix. Ele olhou de um lado, do outro, talvez procurando mais algum detalhe. Seguimos pela lateral e pouco depois estávamos atrás. Nosso passeio continuou firme, agora o sol era escaldante como o do Deserto Pintado e procuramos as sombras dos edifícios. Nossa meta agora era o bairro japonês, onde eu faria algumas compras e o Fabio demonstrou um certo interesse em conhecer.
Japantown…
Igualmente ao Tex quando entra em Chinatown, bairro chinês em San Francisco, também sentimos que estávamos no quarteirão japonês de São Paulo. A paisagem muda repentinamente. As luminárias montadas em arcos e posicionadas sobre as ruas dão um diferencial chamativo e curioso. Ali o Homem de Traços Limpos fez mais alguns clics e fomos directo ao assunto, as compras de ingredientes (nori, harussamê, age) e de alguns doces que adoro desde os tempos que morei no Japão (mochi, dorayake, manju) e o famoso natoo. Fiz tudo bem apressadamente, pois o Fabio havia combinado de ir a um restaurante vegetariano com o Sergio Pignatone para o almoço, ali na região da Paulista. Mas depois de alguns telefonemas, desistiram. O calor era insuportável ali na praça da Liberdade e fomos para o metropolitano, caminho de volta.
Da Barra Funda fomos de táxi para casa. No caminho fomos falando de Tex, de fotografia e de Sampa, e de Arezzo, a cidade do Fabio, que ele atravessa em 10 minutos de caminhada, e faz isso regularmente, até mesmo de bicicleta, quando resolve pedalar durante horas. Ai descobri que o motorista do táxi é descendente de italianos e a conversa tomou outro rumo ali pelas alamedas da Lapa. Por fim, chegamos diante da padaria Letícia, onde os nossos bravos camaradas já estavam acabando de almoçar e nos aguardavam. Chegamos esfomeados e atacamos o que restava no self-service – passava das 14:30h, já no horário brasileiro de Verão. Vale dizer que o Fabio não me deixou pagar o táxi nem na ida, nem na volta, mesmo que eu tivesse insistido. Ele tinha algum dinheiro em reais, fruto das vendas de seus desenhos, conforme falei acima, e queria se desfazer de uma parte. Não discuti, pois não se discute com o ídolo que saca mais rápido.
Já em casa, Júlio e Diso foram para o andar de cima, pertencente ao Helcio. Moreno e Fabio ficaram à mesa comigo e fizeram alguns autógrafos e vimos algumas fotos, fizemos uma olhada no Facebook e no blogue do Tex. Moreno pediu o meu endereço para qualquer eventualidade, quem sabe uma visita ao meu Nordeste, à minha Paraíba. Mexendo na mala, retirei um DVD de um artista paraibano e dei ao Civitelli, que gosta de música, e saquei uma camiseta do Tex e ofertei ao Burattini, para que ele se torne cada vez mais texiano. Eles ficaram surpresos, pois deixei para o último momento, ou quase último. Na verdade, foi por impulso.
Então eles colocaram roupas de atleta e desceram para a piscina. O Dorival chegou e disse que me levaria no metropolitano – às 17 horas tinha que pegar a estrada de volta para a Paraíba. Comecei a arrumar a mala, separar as coisas de despachar e a bagagem de mão. O tempo passava depressa. Aí chegou o Júlio e perguntou a que hora eu iria embora, pois o Diso queria me desenhar um Tex. Então ele foi lá tira-lo do cochilo e pouco depois o desenho começou a tomar forma enquanto eu finalizava a arrumação. Roberto Diso terminou o desenho justo no momento em que o relógio se aproximava das 17 horas e foi a hora da despedida. Senti uma forte emoção naquele instante, pois gostaria que não precisasse mais me separar deles. Mas não teve jeito. Trocamos um abraço e expressamos o desejo de nos vermos outras vezes.
Descemos para o térreo e enquanto o Dorival e o Júlio me esperavam, fui despedir-me de Fabio e de Moreno, ambos deitados na beira da piscina, em lados opostos, aquele na sombra e este no sol. A despedida foi rápida e calorosa, como tem que ser entre pessoas que rezam na mesma cartilha. De ambos os lados, o desejo e a vontade de um novo encontro, os augúrios de sucesso, os agradecimentos por tudo e as promessas de manter contacto… é sempre assim. Saí com o peito apertado, a minha pressão devia estar em alta, mas não me perturbava naquele momento.
Encontrei os amigos brazucas me esperando, foi a vez de despedir desse amigão paranaense sempre presente em todos os momentos texianos e seguir viagem com o Dorival. Nós então tivemos tempo de falar um pouco até de coisas pessoais e ele ao invés de me deixar no metropolitano Barra Funda, resolveu me levar até o Terminal Rodoviário Tietê. Não foi desta vez que o meu pesadelo de perder o voo aconteceu e chegamos ao terminal bem na hora pré estabelecida no meu cronograma. Mais uma despedida e os meus agradecimentos ao Dorival, que é um super anfitrião, e lá vou eu para o guiché comprar passagem para o aeroporto de Viracopos.
A passagem para Viracopos custou 21 reais e o ônibus sairia em 20 minutos (às 18h) e chegaria lá às dez para as oito, justamente uma hora antes do voo – previsto para as 21h -. Perfeito. E assim aconteceu. Mas quando faltava apenas meia hora para o voo e não havíamos sido chamados até ali, ouvimos um aviso de que o voo estava atrasado e a previsão do avião chegar era para as 21:15. Foi a minha vez de prever que atrasaríamos uma hora. E acertei. Levantamos voo passava das 22:20 e seguimos para Confins, em Belo Horizonte, onde para descer o meu ouvido parecia que ia estourar, mesmo eu chupando um rebuçado. Depois voamos para Salvador, onde mais uma vez senti o mal estar da despressurização da aeronave. E na capital baiana, mandaram mudar de avião, o que não estava previsto. De sorte que passamos para um artefacto de mesmo porte e mais moderno, conforme pude comprovar através das luzes e dos controles existentes.
Cheguei nas Terras Quentes às 2 da madrugada, horário local, sem horário de Verão (tive que atrasar o relógio em uma hora). Desde o avião que eu vinha procurando o bilhete do estacionamento para efectuar o pagamento e retirar o meu veículo. Não encontrei de forma alguma e tive que preencher um documento para obter a liberação, mediante o pagamento, mas não tive qualquer acréscimo, porque tinha a passagem de ida e outros papéis. Apenas o do estacionamento evaporou. E uma última cavalgada na noite levou-me até à minha aldeia e 30 minutos depois já estava no ninho, relatando algumas coisas para a minha esposa.
Os ídolos…
As impressões foram as melhores possíveis. O festival eu já conhecia, mas as personagens a gente só conhece convivendo. O Dorival mostrou-se um sujeito altamente tranquilo, calmo, muito na dele e ágil quando precisava tomar uma atitude. O Helcio é de uma educação que desarma só de falar qualquer mal educado e muito atencioso, fino, polido mesmo. O Júlio eu já sabia, é muito divertido, gosta de uma piada, tem muitos causos na ponta da língua e ao tempo que trabalha, se diverte, e também diverte. Se fosse compará-lo a um dos pards de Tex, seria o bravo Kit Carson.
E os amigos italianos, esses realmente são meio que cópia dos heróis a quem dão vida e o convívio com eles representa mesmo estar ao lado de Tex, de Zagor, de Mister No. Sim, eles tem um comportamento parecido. E quando estamos perto deles não se tem a vontade de ficar perguntando sobre uma história, uma aventura, de questionar, de perguntar por uma personagem. Lógico que esses “papos” entram naturalmente na conversa, mas logo somem para dar lugar a outras coisas mais factíveis do quotidiano de cada um.
O Fabio Civitelli é mais compenetrado em Tex, o seu comportamento é exemplar nos mínimos detalhes, e ainda assim ele não perde a naturalidade. Como ele consegue eu não sei, mas deve ser resultado de um treino diário. Talvez não, pois se nós leitores já conseguimos nos comportar como o nosso herói, imaginem ele que convive diariamente com o mesmo, chegando a se confundir com o mesmo, emprestando movimento, feições, carácter visual, etc. Não há dúvida que contracenar com o Civitelli é o mesmo que se sentir numa aventura texiana – quando não tem perigo por perto. O Homem de Traços Limpos é pouco afeito aos modismos, a começar pelas câmaras fotográficas, não é de trocar e-mails a todo instante nem de ficar actualizando blogues ou mídias sociais, e é do tipo que adquire todo o azeite que vai consumir durante um ano directamente na produção comprando em quilos ou mesmo o facto de caminhar antenado com a saúde. O seu sorriso constante, a atenção com os amigos, a conversa franca e inteligente, sempre precisa, continua nos bastidores, durante a viagem, durante as conversas em casa, ou na mesa. E tem mais: o Fabio sabe conquistar. Ele disse que eu sou muito parecido com o Tex. Eu retruquei: Mas os olhos do seu Tex são azuis. Caímos na gargalhada.
Moreno Burattini foi uma grata surpresa para mim, pela positiva. Eu já recebi carta do Moreno ensinando como se faz um roteiro (em 2002), desenho feito por ele (2009), já tivemos alguns contactos ao longo do tempo… mas dele eu tinha uma curiosidade, pois nunca o tinha visto de perto e por ser menos badalado do que os texianos, era o que mais curiosidade me fazia sentir. E ao longo de três dias eu percebi que ele é uma pessoa muito boa, inteligente, de mil e uma acções. Em vários momentos ele se retirou para trabalhar (quando em casa), pois precisava roteirizar para um desenhador parado lá na Itália (e por acaso era o Ferri). Incansável, sempre curtindo cada momento, opinando e tentando aprender, capturando imagens de vários tipos, actualizando blogue e mídias, mostrando para os filhos imagens do Brasil, respondendo postagens, capturando o código de barras do meu livro e uma foto minha para completar o perfil… mas um homem irrequieto, capaz de conversar sobre qualquer assunto. De repente consegui ver que Burattini não é só Zagor, Chico, Darkwood… mas também um autor teatral, cronista, articulista, romancista, escreveu até comédias. E acompanhando o seu blogue, vemos que participa de debate político, futebolístico, e outras coisas mais, inclusive é um gozador, como fez com a sequência de fotos do Diso. Enfim, uma pessoa cheia de artimanhas e truques – no bom sentido, lógico.
E Roberto Diso, hem? Que figura humana fantástica! Nada de parecer o meu nono farmacêutico, como diria o Chico, mas um provável Mister No de carne e osso, com aquele riso fácil do piloto amazónico e um vigor de rapazola. Ficava a observá-lo e tentando captar as milhares de experiências vividas e as sabedorias armazenadas por baixo daqueles cabelos brancos, das costeletas brancas da sua personagem. Diso parece um jovem e chegar na sua idade com tanta alegria de viver é algo extraordinário. Tornei-me seu fã em vários momentos e relembro quando ele me falava da sua viagem ao Brasil, quando colocou os meus apetrechos e se tornou um Tex Diso e ainda no epílogo, quando desenhou e assinou um original para mim.
Os 3 fantásticos já se foram, mas ficou em mim as marcas de um tempo que não passará, pois os momentos são eternos, estarão sempre presentes em minha lembrança, ainda mais agora que escrevi tudo e vou guardar uma cópia impressa, para que fique por muito tempo.
Para finalizar, estou muito feliz. Esta viagem significou um prémio por tudo o que já passei com o Tex, pelo meu esforço em divulgá-lo, em me sentir presente, em fazer o que gosto, e em tentar ajudar no incentivo à leitura. Se tivesse que parar tudo hoje, certamente, já teria sido gratificado. Mas a aventura continua, novos sonhos se farão factíveis e quem sabe se não acontece aquele dito pelo Moreno, de que poderemos nos encontrar um dia desses num evento em plena Itália.
Saí de Sampa certo de que ‘todo texiano é, na sua essência, um grande homem’. E vou além, estendendo isso para os zagorianos de carteirinha, que são muitos no Brasil.

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